PHENOMENOLOGICAL STUDIES - Revista da Abordagem Gestáltica

Editorial

Editoração — Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

Editorial 30-1

CONTEXTO HOSPITALAR E PRÁXIS MULTIPROFISSIONAL: INTERFACES E DESAFIOS

Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

Este trabalho analisou as relações multiprofissionais em um hospital do interior de Minas Gerais, em seus aspectos sociais, institucionais e relacionais. Utilizou-se metodologia qualitativa de perspectiva fenomenológica existencial, com dados coletados via entrevistas realizadas com profissionais de diferentes categorias. Na análise, foram descritas articulações de sentido realizadas pelos profissionais e procedeu-se a hermenêutica de sua contextualização e constituição. A partir da paisagem social assim constituída, as relações de sentido foram cerzidas para compor sua trama significativa. Na dinâmica das relações multiprofissionais, desvelaram-se as seguintes dimensões de influência: social, epistemológica, formativa, experiencial, institucional e dimensão das relações multiprofissionais propriamente ditas. Analisando-se essas dimensões, destacam-se desencontros no diálogo multiprofissional influenciados pelas representações sociais sobre profissões de saúde, condicionantes sociais e institucionais e um fazer ainda centrado no modelo curativo e na hegemonia médica. Conclui-se pela necessidade de abertura de espaços reflexivos sobre as práticas profissionais em saúde.

DEMANDA PSICOLÓGICA NO HOSPITAL: REPERCUSSÕES DO ADOECIMENTO CARDIOVASCULAR NA PERSPECTIVA DE PACIENTES INTERNADOS

Ana Maria Campos, José de Arimateia Rodrigues Reis — Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

A experiência de internação por doença cardiovascular é uma experiência particular, suscitando diversas demandas que podem surgir durante a estadia em ambiente hospitalar, sejam estas reativas ao ambiente ou submissão aos procedimentos necessários ao tratamento, sejam em reação às implicações o adoecimento para a vida familiar e social do paciente. O objetivo deste trabalho foi conhecer as principais demandas de pacientes internados por doenças cardiovasculares em um hospital de referência em cardiologia. Foram realizadas entrevistas abertas e afim de conhecer sentimentos e preocupações pertinentes durante a internação. As entrevistas foram analisadas a partir do método hermenêutico dialético e a partir da análise e categorização emergiriam três categorias principais: vivências de sentimentos ansiosos, vivência de sentimentos depressivos e a vida afetada. A análise dos dados emergidos da entrevista apontam para repercussões emocionais e objetivas, indissociáveis entre si, permeadas pela complexidade da subjetividade humana.

Palavras-chave: Pesquisa qualitativa; Doenças cardiovasculares; Psicologia hospitalar

A CORAGEM NECESSÁRIA PARA A EXPERIÊNCIA DE UMA PSICOTERAPIA DE PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA

REINALDO FURLAN — Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

Assumindo a perspectiva de uma fenomenologia existencial, à luz da filosofia de Merleau-Ponty, nosso objetivo é destacar dimensões de sentido que nos parecem fundamentais para o entendimento do que se passa no campo de nossas relações com os outros, em particular, da relação paciente-psicoterapeuta, e a coragem necessária para acessá-las. Privilegiaremos 1) a historicidade do si mesmo e da percepção de coisa e mundo, com destaque à infância, e 2) o que se passa no campo práxico-perceptivo de nossas relações, que chamamos, aqui, de ponto cego do sentido de nossas relações, se comparado com os significados usuais das palavras, que antes o expressam do que o compreendem, ou que o compreendem nos limites de sua imanência a ele. Com esse objetivo, destacaremos a noção de esquema corporal, a situação da psicologia nos quadros da epistemologia moderna e a necessidade de transformação do sujeito para o cuidado de si e do outro.

A NOÇÃO DE AFETO NA GESTALT-TERAPIA: QUANDO CORPO E AFETO SE ENCONTRAM NA CLÍNICA

Esmael Alves de Oliveira, Dionatans Quinhones — Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

Este artigo aborda a noção de afeto na Gestalt-terapia. Esta, criada por Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman na década de 1950, enfatiza a importância de vivenciar o momento presente e desenvolver a consciência de si mesmo e das emoções. Tal processo não está desimplicado de uma dimensão relacional que passa pela noção de afeto. Assim, compreendemos que este é uma parte fundamental da experiência humana e desempenha um papel crucial na Gestalt-terapia. Através de uma discussão de caráter bibliográfico, à luz de teóricos da fenomenologia e da Gestalt-terapia bem como de nossa experiência com estágio clínico supervisionado em um Laboratório Serviço de Psicologia Aplicada de uma universidade pública, buscamos evidenciar de que maneira afeto e corpo se tornam centrais não apenas para a clínica gestáltica mas também, sobretudo, para um processo de formação terapêutica mais humanizado e eticamente comprometido

CONTRIBUIÇÕES DE CARL ROGERS PARA A PERSPECTIVA INTERSUBJETIVA EM PSICOTERAPIA

Lucia Marques Stenzel — Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

O objetivo deste estudo teórico é abordar as contribuições de Carl Rogers para a compreensão da intersubjetividade em psicoterapia e suas repercussões na pesquisa. Por meio da revisão de textos do próprio teórico, de interlocutores da Abordagem Centrada na Pessoa e da Fenomenologia contemporânea, busca-se demonstrar como Rogers tinha um especial interesse numa forma distinta de estar ciente do outro como uma experiência constitutivamente interdependente. A proposta inicia-se com uma breve introdução sobre as três perspectivas da experiência humana (primeira, segunda e terceira pessoa) para posteriormente aprofundar a perspectiva de segunda pessoa em Carl Rogers por meio da exploração de três eixos temáticos: o conceito de pessoa, a responsividade não-diretiva e a criação participativa de sentido. Demonstra-se que o autor tinha uma perspectiva conciliatória para a ciência psicológica colocando-se como um crítico da visão objetivista e vendo no conhecimento fenomenológico uma alternativa para superar o individualismo ontológico na psicoterapia.

CONTRIBUIÇÕES DA LOGOTERAPIA PARA A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Daniel Bastos, Fábio Pinheiro Pacheco, Antônio Germano Magalhães Junior — Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

O suicídio é um grave problema de saúde pública. A seriedade da situação demanda métodos que mitiguem a problemática e possibilitem uma valorização da vida. Entre as alternativas, há a Logoterapia, abordagem psicológica que tem no seu cerne a busca pelo sentido da vida, a liberdade da vontade e a vontade de sentido. Esse trabalho tem como objetivo verificar como a Logoterapia pode ajudar para a prevenção do suicídio. Foi realizada uma revisão integrativa dos trabalhos publicados nos últimos 10 anos, nas bases SciELO, LILACS, SCOPUS e PsycInfo, com os descritores “Logotherapy” AND “Suicide”. Entre os resultados, observou-se que os estudos mostraram redução significativa de ideações suicidas e subcategorias (depressão, ansiedade, tristeza, culpa e raiva) após a aplicação da Logoterapia, além de proporcionar uma busca por um propósito de vida. Conclui-se que a abordagem pode contribuir para a prevenção do suicídio e mais estudos precisam ser feitos sobre a temática.

PENSAR A INFIDELIDADE NO ESPAÇO CLÍNICO: UMA LEITURA FENOMENOLÓGICOEXISTENCIAL ANCORADA NOS MARCADORES DE RAÇA E GÊNERO

Amanda Fernandes Rodrigues Alves, Fabio Scorsolini-Comin — Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

Este estudo teórico-reflexivo analisa a infidelidade em relacionamentos amorosos sob uma perspectiva fenomenológica-existencial. Como disparador temático, utilizou-se a música “Resentment”, da cantora norte-americana Beyoncé, tensionando como a traição afeta a tonalidade afetiva geral, a compreensão do eu e dos outros, bem como as noções de passado, presente e futuro na experiência de quem foi traído. Nessa reflexão, a interseccionalidade de gênero e raça é considerada, reconhecendo a complexidade das dinâmicas de poder e opressão que podem estar presentes. Enfatiza-se a necessidade de abordar a infidelidade e suas repercussões de forma mais inclusiva na formação de terapeutas e na prática clínica, reconhecendo a importância das complexas dinâmicas de poder, identidade e raça que podem estar presentes nessas experiências. Além disso, enfatiza-se a potencialidade da linguagem artística na reflexão sobre questões filosóficas e existenciais no espaço clínico. Sugere-se a necessidade de mais pesquisas teóricas e empíricas sobre o tema, bem como estudos que explorem mais profundamente as questões da lógica colonial e sua influência nas vulnerabilidades existenciais em relacionamentos afetados pela infidelidade.

UMA PSICOLOGIA CLÍNICA INSPIRADA EM KIERKEGAARD: REVISÃO INTEGRATIVA

Isabella Cristina Correa, Fabrício Emanuel Soares de Oliveira — Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

O presente artigo tem como objetivo compreender a influência do pensamento do dinamarquês Soren Kierkegaard para uma psicologia existencial, mais especificamente, para a psicologia clínica existencial e como sua filosofia pode se relacionar com a prática psicológica. Assim, buscou-se a verificação da produção científica dos últimos dez anos acerca da temática através de uma revisão integrativa. Recorreu-se as bases de dados: bases bibliográficas da Bvs-Psi (Biblioteca Virtual em Saúde-Psicologia), SciELO (Scientific Eletronic Library Online) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). A amostra final foi de 5 artigos apresentando estudos que relacionavam a filosofia de Kierkegaard com a psicologia. Desse modo, compreende-se a psicologia clínica de inspiração kierkegaardiana como um espaço para que o paciente/cliente possa pensar outras possibilidades de existir e se relacionar com suas responsabilidades. Espera-se que os presentes resultados possam contribuir para direcionar novas pesquisas sobre o tema e que possibilite a realização de intervenções no campo da psicologia clínica.

Palavras-chave: Kierkegaard; Psicologia Clínica; Psicoterapia.

FUNDAMENTOS PARA UMA PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICO-HERMENÊUTICA: HORIZONTE HISTÓRICO E CONDIÇÃO ONTOLÓGICA DE INDETERMINAÇÃO

Caroline Garpelli Barbosa — Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

O presente artigo discute a psicopatologia fenomenológica à luz da fenomenologia hermenêutica heideggeriana, com o objetivo de mostrar que, no interior dessa visão, os fenômenos psicopatológicos não são compreendidos como entidades abstratas, genéricas e universais, mas pensados a partir da condição ontológica de indeterminação, bem como dos horizontes históricos. Tal concepção promove uma discussão relevante para os dias atuais, haja vista o predomínio de visões demasiado pragmáticas, técnicas, reducionistas e objetificantes acerca do sofrimento. Para isso apresenta um breve histórico da psicopatologia fenomenológica, com o fim de situá-la e marcar sua especificidade em relação a outras psicopatologias; discute, a partir da visão heideggeriana, o modo de ser do existente humano, com especial ênfase à condição ontológica de indeterminação. Por fim, descreve e sintetiza a compreensão de alguns fenômenos psicopatológicos à luz do olhar heideggeriano, problematizando-s no contexto do atual horizonte histórico.

CONTRIBUIÇÕES DA IDENTIDADE NARRATIVA DE RICOEUR PARA UMA COMPREENSÃO DAS APORIAS DO SUJEITO CONTEMPORÂNEO

JUREMA DANTAS, Felipe Pinho, Adryssa Bringel — Fri, 27 Dec 2024 00:00:00 -0300

O objetivo deste artigo é discutir a problemática da compreensão que o sujeito tem de si mesmo, a
problemática do “quem sou?”. Para tal, buscaremos apresentar a hermenêutica do si mesmo de Ricoeur como
uma saída poética para as aporias da identidade contemporânea. A narratividade, como uma hermenêutica do si
mesmo, proposta por Ricoeur, defende a prevalência da identidade mediatizada, reflexiva e dialógica, de uma
identidade interrogante de si, como narração de uma história de vida. Nesta perspectiva, a promessa, como
atestação de si, revela-se como a única certeza a que pode aspirar o indivíduo. A contribuição de Ricoeur para a
compreensão do sujeito apresenta uma perspectiva reflexiva contra o saber absoluto. A hermenêutica do si
mesmo revela um percurso largo, sempre finito e inacabado para o reconhecimento do si mesmo como agente e
paciente, um sujeito capaz de certas realizações.